O homem do prato sujo
Postado por Luan Henrique | | Posted On sábado, 3 de agosto de 2013 at 16:15
A mulher de Leandro tinha saído aquela noite, farrear com as amigas em um shopping center qualquer, foi o que ela havia dito para ele a uma semana atrás, e após algumas discussões acaloradas ele acabou deixando, afinal, não se pode prender uma pessoa por medo de ser traído, e ele morria de medo disso.
Chegando do trabalho e encontrando a casa inteiramente vazia, Leandro pensou em um jeito eficaz de passar o tempo até que ela retornasse e eles pudessem fazer o que todo casal faz num sábado a noite: assistir televisão de pijama e discutir. Seus olhos estavam buscando um passatempo simples quando de repente eles encontraram a coisa perfeita a ser feita. A pia da cozinha estava repleta de louça suja.
- Bem, não deve ser tão difícil assim – Disse Leandro com uma sobrancelha levantada e pensando por onde deveria começar. Encheu a esponja com um líquido encorpado com uma coloração verde quase transparente, o cheiro era agradável mas o gosto era horrível, constatou ele. E enquanto a água jorrava da torneira ele começou a esfregar um prato atrás do outro, com movimentos cuidadosos e circulares, tentando retirar o máximo de sujeira que conseguisse. No quarto prato algo estranho aconteceu. Ele estava quase terminando a esfregação e se preparando para retirar a espuma que era exageradamente espessa, quando ele simplesmente se desfez em suas mão. Foi como quando pegamos um montinho de areia molhada nas mãos e ele simplesmente se dissolve com a pressão produzida pelos nossos dedos.
Leandro achou que aquilo era algo perfeitamente normal, pensou até que poderia ter colocado muito daquele líquido na esponja e que talvez ele fosse forte demais. Se odiou por ter colocado ele na boca, se fez isso com um prato… bem, ele parou de imaginar qualquer coisa quando uma lâmpada logo acima de sua cabeça explodiu.
- Mas que caralho! Gritou ele enfurecido, e pegou agora um copo para esfregar e descontar sua raiva. Todas as portas da casa começaram a bater com a fúria de um leão homossexual que só é cutucado com varas curtas. Leandro estava ficando assustado com tudo aquilo e olhou pela janela para aquela linda noite que fazia ao sair do trabalho, e para sua surpresa, o céu estava vermelho agora, e uma metade da lua estava bem no centro daquele céu menstruado, enquanto a outra metade parecia cair pelo horizonte.
Não existia drogas no mundo capaz de produzir aquele nível de chapação que ele estava vivendo, e ele sabia muito bem disso, já havia experimentado todas e nada era como aquilo. Então só podia ser a realidade. Tentou fechar a torneira mas a água fria continuava jorrando, e Leandro já estava ficando bastante puto com tudo aquilo.
Foi quando a porta da cozinha se abriu e sua mulher entrou, mas não era bem a sua mulher, ela estava negra e seus cabelos azuis, bem diferente da ruiva cheia de sardas com quem ele havia se casado, mas seus olhos, sua boca, seus seios, eram aqueles que ele conhecia a tanto tempo.
- O que você fez com o mundo Leandro? O que você fez meu querido?
- É…! Nada, eu juro. Estava puto por ter chegado em casa e não te visto que resolvi lavar a louça para me distrair.
- Idiota! IDIOTA! – Gritou Amanda, e agora sua voz era de um tom mais grosso do que o normal, lembrando a voz de um travesti sendo estuprado.
Ela gritou algumas palavras irreconhecíveis e tirou Leandro da sua frente. Ele deu alguns passos para trás e olhou para fora, onde barulhos ensurdecedores de alarmes de carro e gritos histéricos ecoavam enquanto todas as estrelas caíam do céu e algumas dessas pessoas se transformavam em bonecos-palitos animados.
Leandro deu um gemido de desespero e viu que sua mulher agora esfregava o resto de louça que havia sobrado. Enquanto lavava um prato, ela jogava no chão os que estavam limpos, os espedaçando com um barulho irritante.
- VOCÊ! JAMAIS! DEVE TOCAR! NESSA PIA NOVAMENTE! ENTENDEU BEM SEU IDIOTA!
Sua voz era pausada e rouca, cada palavra sendo entoada com uma exatidão que até um homem poderia entender bem.
- Você fodeu com o mundo Leandro. – Agora ela parecia estar se acalmando enquanto sua cor natural voltada ao poucos a sua pele. – Você estragou a ordem natural das coisas e o planeta não soube como reagir a isso, então ele começou a se desfazer para começar tudo de volta, com novos seres vivos. Mas eu o farei voltar ao normal, vamos, pegue uma cerveja na geladeira e beba enquanto olha para a minha bunda se mexendo.
E ele o fez, olhava para suas nádegas belas e curvas e de vez em quando olhava para fora e via o céu voltando ao preto característico da noite. Pessoas já não gritavam mais, e após uma meia hora mais ou menos (cacete mulher, não são tantos pratos assim, só nos dois moramos nessa casa, agiliza essa porra) tudo voltou a mais completa normalidade e Leandro deu um suspiro de alívio.
A lua estava inteira novamente, não cheia, mas crescente, e seu contorno prateado claro ao redor dela estava lá novamente, e tudo voltou ao normal.
Ela terminou de secar a louça e os dois se sentaram no sofá para assistir a uma comédia romântica na tv a cabo e se abraçaram.
- Eu jamais tocarei novamente na louça – Disse o Leandro, profundamente arrependido daquela besteira que havia feito.
- Assim como eu jamais farei anal com você – Ela respondeu, e os dois se beijaram por um longo tempo…