Motociclista selvagem a 30 km/h

Postado por Luan Henrique | | Posted On quarta-feira, 27 de março de 2013 at 19:16

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  Essa é a história de Diony, um motociclista malvadão, bigodudo, com jaqueta de couro e piercing no nariz. Ele seria o típico estereótipo de filmes americanos ao qual você já está acostumado a ver, se não fosse por alguns probleminhas: Ele tem um ótimo coração, só a cara é de mal. Seu bigode acabou de sair da puberdade e é apenas um fio raso que olhando de longe parece sujeira, sua jaqueta de couro é falsa e ainda por cima é marrom claro e seu piercing no nariz é uma pequena bolinha prateada.

  Mas a parte mais importante de todo motociclista é a sua moto. E o pequeno Diony possui uma Biz 125, mas em sua cabeça o que ele realmente tem é uma Harley Davidson. Sua Biz é toda preta, incrementada com bolsas de couro dos dois lados e uma atrás, a tampa do seu tanque de combustível é em formato de caveira (mesmo que ninguém possa ver), seu guidão foi modificado para ficar na altura da cabeça e seu escape faz um barulho tão alto e tão irritante quanto uma ex-freira perdendo a virgindade.

  Mas ninguém tira sarro dele não, nos encontros de motociclista ele cumprimenta todo mundo, admira toda moto e sempre é tratado com o maior respeito do mundo. A pena faz isso por si só.
  Ele chegou até formar seu próprio moto clube, os “Bizcoiteros”, porque ele tem uma biz, e na infância foi um escoteiro vendedor de biscoitos. Faz todo o sentido, é claro. Ele e seu sócio são os unicos membros por motivos desconhecidos. E seu sócio nem moto tem.

  Outro detalhe sobre o Diony, é que ele odeia velocidade. Se caga de medo de andar rápido, e certa vez ele foi levar a sua namoradinha até o cinema, e ela perguntou:

- Diony, por que você anda tão devagar na BR? Você pode acelerar mais essa moto, sabia disso?
- Amor, eu andei a minha vida inteira de ônibus e demorava em média 45 minutos para chegar até aqui. Hoje eu tenho uma moto e posso chegar em 10 minutos. Por que eu arriscaria a minha vida e, mais importante, a sua, só para chegar em 8?

  Resposta inteligente, admito, mas ainda não tira o fato de ele ser um bundão.

  Um dia ele parou em um posto de gasolina para abastecer seus cinco reais, e uma Harley parou ao seu lado. Diony não se aguentou e teve que ir falar com o dono daquela maravilha que ele sempre sonhou ter. Ele era um homem de meia idade barbudo usando um relógio no pulso que pagaria a Biz e a dignidade do jovem garoto que ainda teria de devolver troco.

- Nossa, tesão essa moto ai né tio? Brilhante, pira demais esse modelo.
- É mesmo, mas tira a mão
- Quanto custa uma belezura dessas? Deve passar dos 50 mil né não?
- Passa, mas tira a mão.
- E esse botão aqui? Nunca vi ele em moto alguma cara, o que ele faz.
- Liga, e tira a mão
- Foda, já pegou 200 km/h nela?
- Já sim, e tira a porra da mão por favor!
- Demais cara, parabéns ai. Posso dar uma volta? Só aqui dentro do pátio.
- Você só pode estar maluco.

  Ele subiu e foi embora, sem nem ter tempo de abastecer, e o Diony ficou lá, babando e sonhando em um dia poder comprar pelo menos um pedal daquela perfeição.

  Tadinho do pobre Diony, a piada quieta mais óbvia por onde quer que passasse. Mas em sua cabeça ele apavorava, nunca imaginou que as pessoas tirassem sarro quando ele não estava por perto. Que seus vizinhos odiavam o barulho de sua motinha e que sua namorada só estava com ele por causa de uma aposta. E como quase todo personagem imbecil de minhas histórias acabam morrendo no final, certo dia ele estava andando a 30 km/h em uma avenida, ouvindo seu mp3 no aleatório com as 3 unicas bandas que ele conhecia (ac/dc, metallica e iron maiden) e veio um carro desgovernado lotado de funkeiros embriagados que bateram na lateral de sua moto, fazendo ele voar a alguns metros de distância e bater a cabeça no chão, e como seu capacete era uma tampa de ferro amarrada com uma cordinha fraca, ele morreu na hora. Os funkeiros fugiram e jamais foram pegos, e testemunhas afirmam que eles não deveriam ser pegos.

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