Sonhos chapados de um jovem sem cabeça

Postado por Luan Henrique | | Posted On terça-feira, 19 de fevereiro de 2013 at 15:55

 telo

  “Essa vida é uma merda”, eram as palavras mais pronunciadas pela boca suja e podre de Jurandir, um paulista classe média alta sofredor que sonhava em ser um músico, mas nunca aprendeu a tocar nada e nunca escreveu sequer uma letra, mas ele tinha a perseverança dos gênios e a malandragem dos ignorantes, qualidades que o levariam até o pilar mais alto da fama, ou as profundezas mais baixas do empregado com salário mínimo.

  Mas o destino, ahh esse maldito, pilantra e insuportável destino bateu à sua porta certa manhã. Jurandir estava se decidindo com qual roupa sairia para um baile a fantasia do colégio, ele decidiu que usaria as velhas fantasias de carnaval de seu falecido avô, que estavam amarrotadas em caixas velhas no fundo do porão de seu apartamento, quando, indeciso entre ir de índio ou de  líder de torcida, ele encontrou um diário. Era um diário desgastado, com páginas amarelas e capa de couro, e curioso e com muito tempo livre, Jurandir começou a ler.

  Entre besteiras sentimentalistas de um velho apodrecido, ele achou um trecho de uma marchinha de carnaval – pelo menos foi isso que ele achou que fosse, devido a sua letra inspiradora – e se admirou de forma tão comovente que resolveu utiliza-la para criar um sertanejo e impressionar as garotinhas de seu colégio. Faltava a metade da página, mas ele achou que já possuía linhas o suficiente para ser uma canção universitária de 3 minutos, e isso bastava.

  A música estourou em poucas semanas, os contatos de seu pai que estavam na primeira apresentação acharam que aquele seria o novo Hit de verão, ligaram para gravadoras que se impressionaram com o talento nato do jovem garoto em cantar uma melodia tão doce e tão profunda como aquela, logo sua música estava na internet e teve quase 30 milhões de visualizações em apenas 2 minutos e meio. Dinheiro começou a cair do céu, convites e mulheres igualmente. O seu achado seria histórico.

  Após algumas apresentações em programas de tv, rádios, internet, estádios e palanques flutuantes, as pessoas começaram a se perguntar quando o próximo sucesso seria lançado, mas Jurandir não tinha nada, e com isso, se afundou nas drogas. Começou de leve, com algumas pitadas de Marionégano em sua pizza matinal, e foi evoluindo, até que sua realidade se perdeu totalmente entre sonhos chapados de um jovem sem cabeça.

  Mas seu sucesso continuava crescendo, versões em inglês, turco, espanhol, tupi-guaraní, francês e na exclusiva língua do P foram lançadas, e ele se transformou no artista brasileiro mais bem sucedido lá fora, tendo até John Lennon ressuscitado apenas para regravar essa obra prima.

  Mas a fama não foi o suficiente para o querido Jurandir, toda noite quando ele tinha um pequeno lapso de consciência ele relia o inscrito original de sua música, se imaginando como ela terminara na mente de seu saudoso avô. Seu começo era genial e magnífico, seria o restante da música tão grandiosa assim? Ou será que terminava de forma desastrosa como a vida de seu criador? Ele ficava frustrado por não saber e cada vez se afundava mais nas drogas.

  Jurandir morreu cedo, aos 27 anos de idade, fruto de uma overdose bombástica, mas sua fama perdurou para todo o sempre, e até hoje a letra de seu grande sucesso pode ser ouvida em qualquer lugar que você procure, ou, para os fãs mais fiéis, sua letra foi escrita em sua lápide de mármore no cemitério municipal, letra essa que dizia o seguinte:

“Cheirei um pó, fumei um baseado
fiquei doidão eu fiquei acabado.
Não conseguia mais ficar parado
Então eu fui, e comi um viado

Mas será que o viado era eu,
será que o viado era eu?
Será que o viado era eu
será que o viado era eu?” x48

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