Viagem ao centro da puta que pariu
Postado por Luan Henrique | | Posted On terça-feira, 22 de janeiro de 2013 at 17:40
- Mãe, onde o papai está?
- Você quer saber onde seu pai está? Eu vou te dizer exatamente onde ele tá…
Maravilhada com o detalhamento de sua mãe ao explicar para onde seu pai tinha ido, Ana Rubens da Costa, vulgo Aninha, ficou louca para descobrir onde ficava esse lugar. Seu pai tinha partido a 4 anos atrás, quando Aninha tinha 11 anos, e toda noite ela chorava lembrando do quanto ele era bom. Desde aquela vez no colégio, quando acidentalmente as calças grandes demais para ela tinham caído na frente de todo mundo, e suas vozes ecoaram pelo pátio do colégio uma canção começada por Eri – o piadista da turma, o fortão, o alto, o futuro gari - “Aninha, putinha, não usa calcinha”, e seu pai entrou no meio da turma, vermelho de raiva e gritando que as putas eram elas, e os meninos tinham gonorréia, e acertou a cara do Eri com tanta força que ele quebrou 7 dentes e só consegue respirar pela boca até hoje, a Ana viu que tinha um herói para se espelhar.
Mas os heróis somem, e com eles se vão as esperanças de um coração juvenil. Agora tudo o que Aninha queria era poder encontrar a tal puta que pariu, pois lá ela iria encontrar novamente o seu herói.
Ela passou dias procurando em todo quanto é tipo de mapa que pudesse encontrar, procurando incansavelmente por aquele lugar mágico, desejando com toda a sua força descobrir seu destino, mas tudo foi em vão, semanas se passaram até que ela desistisse de procurar, até que certo dia ela conheceu o Orisvaldo…
Orisvaldo era um crente vagabundo, daqueles que não valem um all star furado na lixeira de um colorido, daqueles que só vão na igreja pra comer as crentinhas e não se importam com uma palavra sequer do que é dito nos cultos, um péssimo ser humano que sempre irá se dar melhor na vida do que todos nos. Ele a encontrou na biblioteca da escola depois da aula, ele tinha ido lá para xavecar a bibliotecária de 87 anos, mas quando descobriu que ela havia morrido e sua neta de 17 anos tinha tomado conta do lugar, ficou aborrecido e resolveu passear por aquele tedioso lugar sombrio.
Aninha estava olhando para a sessão de geografia, indecisa em qual livro escolher, e no impulso natural do ser humano quando não sabe o que fazer, ela gritou as palavras “puta que partiu”. Todos pararam o que estavam fazendo e olharam para a jovem, mas em seguida voltaram aos seus afazeres, porque aparentemente ninguém se importa, exceto uma pessoa:
- Você quer ir para lá?
- Sim, meu pai está me esperando nesse lugar para nos reencontrarmos.
- Bem, vai ter uma excursão da minha igreja em 3 dias, iremos todos de ônibus para esse lugar que você tanto deseja, tem um acento livre no meu lado se você se interessar.
- Sério? Isso seria ótimo. Mas o que vocês irão fazer lá?
- Na verdade eu não sei direito, meu pastor ficou bravo por ter tanta gente nos mandando para lá ultimamente, e ele acha que é vontade de Deus que iremos para lá. Deve ser a nossa terra santa, não sei ao certo. Mas posso contar com você então? Quinta-feira, as 6h da manhã o ônibus vai partir, a entrada é um beijo e um quilo de alimento não-perecível, seja lá o que isso for.
- Pode contar comigo, a comida eu arrumo e o beijo o motorista com certeza irá ganhar.
Quinta-feira chegou, Aninha, ansiosa, era a primeira da fila do ônibus, uma réplica exata do ônibus dos Beatles em Magic Mistery Tour. Quando todos começaram a entrar, Orisvaldo tomou seu lugar e deu uma palmadinha no banco ao seu lado para que a Aninha se sentasse, e foi isso que ela fez.
Eles conversaram o caminho inteiro, falaram de suas famílias, de suas vidas escolares, de suas crenças, de seus vícios, de suas preferências sexuais – o que assustou de início a Aninha, mas logo ela esqueceu – e falaram até de coisas que não existiam, como o amor. Eles estavam andando sobre uma estradinha de chão isolada do mundo, pela janela só se viam árvores, mato, e dois esquilos transando.
Um pouco mais a frente, o ônibus deu uma freada repentina, que fez com que a mulher pagando um boquete no banheiro se afogasse e lágrimas saíssem de seus olhos. A porta se abriu, e todos pararam o que estavam fazendo para olhar o homem que estava entrando.
Ele era negro, alto, gostoso, lindo e muito provavelmente pintudo. Exibia um sorriso malicioso na cara, daqueles que assustam criancinhas e molham suas mães. Ele entrou e todas as mulheres procuravam um jeito de fazê-lo se sentar ao seu lado. Nossa como ele era perfeito. Quando ele passou pela Aninha ela sentiu seus pelos arrepiarem, de um jeito que jamais tinham se arrepiado antes. Ela vislumbrou a vista de sua bunda por alguns segundos até que Orisvaldo a puxasse pela manga da camisa:
- Não o deseje demais, ele é o Jonas, ladrão de pureza das mulheres, em nome do satanás.
- Mas que porra ele tá fazendo nesse ônibus então? Essa merda não é de igreja?
- Existem mais demônios em igrejas do que em qualquer outro lugar Aninha, você deveria saber disso.
Duas horas depois, o ônibus estava quase chegando ao seu destino, quando Jonas se aproximou de Aninha e disse, com uma voz suave e perfeita – Venha aqui, tenho um presentinho para você no banheiro.
A Aninha se levantou, mas logo foi pega pelo Orisvaldo que levantou também e gritou para Jonas:
- Saia daqui capeta, essa menina é minha, você não irá colocar nada grande e suculento dentro dela, jamais, ela é minha, saia em nome de Deus.
Mas Jonas não ouviu, apenas fez um gesto com sua mão direita e mandou o jovem Orisvaldo para fora do ônibus, saindo pela janela e quebrando o pescoço ao cair.
- Meu Deus do céu, o que você fez?
- Seu pai não está na puta que pariu Aninha. Seu pai está morto, no inferno, com todos nós. Ele morreu fudendo uma jovem, ataque cardíaco, pervertido do caralho. Venha, eu vou te levar até ele, tudo o que você precisa fazer é fechar os olhos e relaxar.
Ela foi, toda a sua inocência foi perdida no banheiro do ônibus que, logo em seguida, bateu em uma árvore matando todos. Ela morreu com um sorriso no rosto, e jamais viu novamente seu pai, ou sua mãe, ou Orisvaldo. Tudo se foi, e nunca mais voltará…
Para Geziel “Crente vagabundo” Nascimento e Luis “Negro pegador endemonhado” Henrique do Vale