A lenda dos caralhinhos voadores

Postado por Luan Henrique | | Posted On quarta-feira, 16 de janeiro de 2013 at 11:36

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  Desde criança Márcia ouvira de sua mãe sobre os temíveis caralhinhos voadores, seres cruéis que poderiam aterrorizar a sua vida caso a sua virgindade fosse perdida por fantasmas em noite de lua crescente. Márcia nunca imaginou como um fantasma poderia arrancar a sua virgindade, mas logo ela descobriria que era apenas uma questão de deixar entrar. E em certa noite, no auge de seus 38 anos, ela os deixou.

  Logo na manhã seguinte, ao acordar, ela percebeu certa umidade escorrendo por entre suas coxas, mas não deu atenção a isso, poderia ser alguma goteira no teto ou lágrimas guerreiras oriundas da solidão, não importava, já era tarde e ela tinha que terminar seu roteiro para a nova novela das 13h da tv senado - “Corrompendo corações”, um drama histórico e familiar sobre uma prostituta que infectava seus amantes com o recém descoberto vírus da AIDS só de sacanagem – e o episódio da próxima semana seria inesquecível, caso ela conseguisse se lembrar sobre o que era.

  Sentada na frente de seu computador, com o Word e o Twitter abertos ao mesmo tempo, ela esperava ansiosamente a história surgir em sua cabeça e alguém dar RT na frase depressiva e imbecil, que em sua cabeça soava como sarcasmo mas para todos seus seguidores soava apenas como fracasso, quando todas as luzes de sua casa apagaram de uma só vez. Teria sido assustador se não fosse pelo fato de estar de dia, mas ela correu para a janela para verificar a vizinhança.

  Em toda casa que ela olhava as luzes estavam apagadas também, mas novamente, era de dia, então que se foda. Márcia deitou em sua cama, pegou de sua cabeceira o seu novo livro favorito “50 tons de cinza” e começou a ler. Uma história fantástica sobre alguma coisa.

  “Toc, clapft, pumb”, foram os sons que Márcia ouviu em sua parede. Ignorou-os totalmente achando que seu vizinho estava aproveitando a falta de luz para transar com sua nova namorada idosa, mas os sons ficaram mais altos e mais próximos dela.

- Márcia, ohhhhh Márciaaaaa – uma voz aguda seguida de vários ecos, como se tivessem milhares de pessoas chamando o seu nome diretamente da porta do inferno. As vozes logo viraram gritos e engrossaram até que ficassem parecidos com um estádio repleto de Alexandres Frota gritando seu nome.
- Quem é? Quem está me chamando? Retrucou, já assustada e confusa.
- Márcia, viemos te pegar Márcia querida, você pertence a nós agora.

  Tudo ficou escuro, a luz do sol desapareceu de imediato e ela se viu dentro de uma bola imaginária vazia, com pequenas pirocas voadoras aparecendo aos poucos diante de seus olhos que tentavam se acostumar com a escuridão repentina.

- Morra Márcia – A voz do Alexandre Frota
- Não querida, venha para nós – essa segunda voz era mais calma e fina

  E as duas vozes falavam ao mesmo tempo, como se estivessem dentro de sua cabeça. – Por favor, parem – implorou a Márcia. – Parem, eu faço o que vocês quiserem, por favor, me digam o que queres e eu trarei, mas me deixem em paz.

- Queremos que você faça algo para nós Márcia – As duas vozes juntas, falando em uníssono. – Queremos o sangue da primeira menstruação de uma virgem para nos satisfazermos querida. Queremos isso e queremos agora.
- Ok, ok, por favor, eu vou conseguir isso para vocês, por favor. Me dêem algumas horas e trarei o que vocês estão me pedindo.
- Vá Márcia querida, você tem até o meio dia para nos trazer o que desejamos, ou iremos assombrar suas noites nessa casa até o final de sua vida
- Eu estou indo, por favor, estou indo.

  E quando ela estava prestes a sair para a rua em busca de uma jovem, uma outra voz, diferente daquelas outras duas disse, como em um sussurro: “Fala pra ela trazer salgadinhos”

 

  Márcia saiu para a rua desesperada, não sabia o que fazer e nem para onde ir. Ficou horas procurando alguma menina que ainda não tivesse menstruada, mas como já era de se esperar, você não é muito aceita pela sociedade quando pede para a mãe de alguém o sangue vaginal de sua filha. Quando ela se deu conta, já eram 3 horas da tarde e, como nada havia acontecido com ela, foi para casa de seus pais onde ficou pelo resto da vida. Sem ser atormentada. Aparentemente caralhos não possuem dedos, assim, não conseguem abrir portas e ficaram aprisionados dentro da casa. Márcia nunca deu para ninguém, mas até hoje ela tem a mais absoluta certeza de que não é mais virgem…

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