Sabedoria de beira de estrada

Postado por Luan Henrique | | Posted On quarta-feira, 13 de março de 2013 at 19:35

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  Alan era garçom de uma lanchonete de beira de estrada, daquelas bem fuleiras mesmo, que se não tivesse uma placa monstruosa na fachada frontal com os dizeres “LANCHONETE”, as pessoas que passassem pela frente iriam imaginar que se tratava simplesmente de um abatedor de carne feminina vencida, vulgo puteiro de 5ª categoria.

  O jovem de 25 anos trabalhava com uma expressão meio abatida, mas nunca deixando de atender bem os clientes que se arriscavam a comer aquela comida de procedência duvidosa ou a beber uma cervejinha quase gelada direto do bico da long neck empoeirada.

  Nesse dia, um sábado a tarde tão abafado que fazia virilhas suarem até o ponto em que andar se transformava em uma tarefa dolorosa e irritante, entrou pela porta da lanchonete um caminhoneiro (TODOS eles são inconfundíveis, mesmo que você não enxergue o caminhão) e, chegando junto ao balcão onde o Alan estava tentando inutilmente tirar uma mancha que parecia ter vindo de fábrica, falou:

- Garoto, eu quero um X-Mignon com bastante pimenta e nenhuma salada.
- Desculpe senhor, o nosso cardápio é esse que está ali em cima, infelizmente não possuímos X-Mignon, mas se o senhor desejar o nosso hambúrguer caseiro é maravilhoso.
- Muluque, eu quero a porra de um X-Mignon, não quero merda nenhuma de hambúrguer. Vai lá fazer o que eu pedi porque eu to com pressa.
- Moço, nós não temos Mignon, não podemos fazer um X-Mignon sem isso, desculpe, mas o que está no cardápio é tudo o que temos.

  Irritado, o caminhoneiro bateu forte no balcão e começou a desferir milhares de ofensas ao pobre Alan, que manteve a sua reação natural até que ele parasse de falar e se acalmasse um pouco, quando isso aconteceu, Alan disse calmamente:

- Senhor, é o seguinte. Eu sou apenas um funcionário aqui, não sou o dono e nem tenho um açougue nos fundos dessa loja, eu te tratei muito bem, não fui ignorante com o senhor e só quero que você entenda que não podemos fazer um produto fora do cardápio, porque não possuímos o ingrediente. Não tem porque você me tratar tão mal assim, mas se desejar, aquele senhor sentado ali é o gerente, ele também não vai resolver o seu problema porque normalmente ele não costuma carregar um Mignon no bolso aos sábados, mas ele é pago para ouvir essas merdas que você está dizendo, diferente de mim. Então com licença, tenha um bom dia e, sei lá, volte sempre.

  O caminhoneiro saiu batendo as botas no chão de raiva, e pra um símbolo de masculinidade que os caminhoneiros representam, ele pareceu bem boiolinha.

  Uma moça bonita que estava perto da porta e ouviu tudo, se aproximou de Alan e começou a falar com ele:

- Nossa, que cara ignorante, como você consegue manter a calma com clientes assim?
- Eu já estou muito cheio de problemas pra me importar com a falta de educação das pessoas. Acabei de ser demitido desse emprego, minha mãe está no hospital e descobri recentemente que minha mulher está me traindo com um cara tão musculoso que eu mal consigo enxergar a cabeça dele, e eu não posso fazer nada sobre isso.
- Nossa, que triste, mas existe sim algo que você pode fazer.

  Transaram. A história termina assim, e a moral disso tudo é: nada está realmente perdido se você puder transar.

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