Autobiografia de outra pessoa qualquer

Postado por Luan Henrique | | Posted On terça-feira, 16 de outubro de 2012 at 18:34

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  A vida de Rodrigo era vazia e sem sentido. Todos os dias acontecia a mesma coisa medíocre que o dia anterior, e esses dias de rotina destrutiva logo viraram anos perdidos que jamais seria recuperados por culpa de escolhas erradas feitas ao longo do caminho. Ele se sentia cada vez mais triste e solitário, cada hora passava como se uma serpente da desilusão enforcasse seu pescoço o impedindo de respirar normalmente e ele se sufocava cada vez mais em sua própria dor.

  Dor que ele nunca admitiu sentir, quanto mais ela crescia mais ele fingia que estava tudo bem, que não era problema algum, que logo alguma espécie de poder divino iria aparecer o livrando de todo o sofrimento, mesmo ele não cansando de ressaltar para todos que quisessem ouvir a sua falta de crença em Deus, no fundo ele imaginava que esse era o grande segredo para a felicidade, mesmo que sendo uma falsa felicidade, mas ainda assim melhor do que perder o seu tempo pensando ao invés de agir de alguma maneira.

  Rodrigo tinha uma arma de fogo escondida em uma caixa de tv por assinatura que ficava em cima de seu guarda-roupas, um lugar pouco discreto para se guardar tal objeto, mas que ele o mantinha lá sempre para se lembrar que existe uma fuga para a dor, em sua cabeça perturbada era a melhor maneira de se livrar de toda essa dor, e ele estava esperando o momento em que isso se tornaria insuportável ao ponto de ter de usar sua unica bala que foi feita, vendida, comprada, distribuída e novamente comprada com um único propósito – a morte.

  Em pouco tempo Rodrigo se afastou completamente de sua família e amigos, ele botou na cabeça que ninguém mais importava, já que ele mesmo parou de se importar. Todos que tentavam o ajudar de alguma maneira eram tidos como “vermes-que-deveriam-cuidar-de-suas-próprias-vidas”, e seu temperamento agressivo e meio imbecil os espantavam para sempre de sua vida, fazendo com que cada vez mais ele se sentisse sozinho e sem entender o porquê de ter de ser assim.

  Certo dia suas emoções fugiram do controle com uma força que ele nunca tinha visto antes. Toda a raiva dentro de si misturada com algumas caixas de cerveja explodiram para fora como se fosse um vulcão entrando em erupção pela primeira vez e mostrando para todos os que estavam ao redor o poder destrutivo de seu interior. Rodrigo já não era mais ele mesmo, ele se sentia como o Bruce Banner deveria se sentir quando se transformava no Hulk, e algo assim jamais poderia terminar bem.

  No meio desse ataque inesperado apareceu a mãe de Rodrigo, que vendo a dor do filho tentou o ajudar mais uma vez. Mas palavras amorosas entravam em seu ouvido e se transformavam em ofensas dentro de seu cérebro esgotado e cego. Ele foi até seu quarto e pegou sua pistola carregada disposto a terminar com tudo. Agora era a hora. Nada o iria impedir de apertar aquele gatilho, tudo iria se acabar do mesmo jeito que começou – pensou Rodrigo – rápido e sem amor. Mas sua mãe o pegou no ato e, entre choros, gritos e empurrões ouviu-se um tiro no escuro.

  Bem no coração. Sua unica bala cumpriu o seu propósito. Quem mais tentou ajudá-lo e a unica a não desistir dele quando todos o fizeram sangrou. Sangrou e chorou.

  Em uma cela pequena e fedida Rodrigo se lembrava de uma frase que tinha ouvido a alguns dias atrás em um filme antigo que passou na tv: “Um homem que controla as suas emoções controla a sua vida”. Ele não tinha mais controle, nem emoções, e muito menos uma vida. Tudo estava escuro e perdido. A dor não ia passar tão cedo, era tarde. Tarde demais para tentar se livrar…

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