Maço de cigarros
Postado por Nerek Rato | | Posted On sábado, 4 de agosto de 2012 at 11:44
Faz dias que eu não sonho, ou lembro-me de meus sonhos, as vezes acordo com a sensação de ter sonhado, sinto a cama empapada de suor e tento não pensar. Levanto da cama e vou até a cozinha, me preparo um café, acendo um cigarro e me sento em uma cadeira.
Pensamentos incoerentes e insanos passam pela minha cabeça, cenas de paixão, perda e vingança, provavelmente temas de um próximo conto, e então eu me lembro dela.
O nome dela já não vem ao caso ou sequer importa mais, cedo ou tarde o nome dela se irá perder entre outros tantos, mas por enquanto é ela que fica em minha mente, lembro-me do sorriso dela e lembro-me dos sonhos que ela me contava, lembro-me de sua música favorita e da que ela mais odiava.
A saudade começa a crescer e eu começo a perceber que preciso de outro cigarro, ela tinha pedido para que eu parasse de fumar, mas ela nunca pôde entender que era dela a culpa, era ela que sumia e nunca dava certeza de que voltaria, eu a amava e ela sequer me queria.
Minha xícara de café chega ao fim e eu percebo que enquanto divagava as areias do tempo insistiram em continuar caindo e já alto caminhava o sol. Banho-me, visto uma roupa qualquer, no caminho do trabalho eu passo em frente de onde era o trabalho dela, ah!..., Suspiro em estranha falta de alegria, quantas vezes havia aqui ficado parado, em frente à fonte, só para observa-la trabalhar, antes, durante, mas não depois.
Trago meu cigarro e continuo meu caminho ao trabalho, logo chego, continuo meu cigarro, termino-o e jogo a bituca longe, abro e olho para meu maço e vejo que só me sobram cinco cigarros, olho para o interior de minha lanchonete e decido que tenho tempo para mais um, pego-o, ponho-o na boca, caço meu isqueiro em meus bolsos, encontro-o, acendo-o, dou-lhe a primeira tragada, e então solto a fumaça e forma disforme e livre.
As vezes eu mesmo observo meus próprios hábitos e me pergunto o porque deles, como meu habito de fumar, uns dizem que foi influencia de amigos, outros que foi culpa da televisão e de seus filmes, outros ainda culpam os jogos, e há aqueles que cavam na minha infância vivida como fumante passivo.
Nada disso, quando pergunto a mim mesmo porque eu fumo, eu me lembro de um dia que acordei com vontade de fumar, antes disso nada mais importa.
O cigarro já termina, jogo o que sobrou dele na rua e entro na lanchonete e me sento atrás do balcão, puxo meu iPod e começo a jogar, ao ouvir passos eu sempre me levanto e olho para a porta da rua, eu sei que ela não vai voltar, mas dentro de mim, lá no fundo, ainda tem alguém que sofre na esperança de tê-la de volta, com seus cabelos dourados, seus olhos adoráveis e seu sorriso cativante, que mesmo agora, depois de tudo, e ainda, igual antes, fumante, mantenho teus olhos como meu horizonte.
Sei que te fiz esta promessa, e caso esteja lendo, me desculpe por não cumpri-la, e agora percebo, que tolo eu fui por não esperar sua ida, já que nunca prometeste que ficaria.
E assim, na caminhada do dia-a-dia, entre chegadas e partidas, saudações e despedidas, e também de verdades e mentiras, mantenho sempre ao meu lado, meu mais próximo aliado, esse tóxico, sujo e finito maço de cigarros