Nuvenzinha, a história de Becky

Postado por Anônimo | | Posted On quarta-feira, 9 de março de 2011 at 18:13

Gilliard aquela nuvem

  Nuvenzinha é uma pequena cidade quase mas não totalmente mais ou menos longe demais do centro de Curitiba. Ela é considerada por todos como sendo um lugar amaldiçoado. Em parte por coisas estranhas acontecerem por lá, mas principalmente por seus moradores serem pessoas extremamente feias.

  Nessa cidade vive uma garota, recém formada em prostituição semi-ilegal de Chubas – uma planta local que não serve para absolutamente nada, mas é incrivelmente linda – seu nome é Becky, e seu maior sonho é se casar com algum moço inteligente e bonito, fato que dificilmente irá se concretizar se ela continuar colocando frases idiotas de efeito no sub-nick do msn.

  Mas um dia aparentemente normal em Nuvenzinha acabou se transformando em algo completamente o oposto de normal, eu diria que as coisas chegaram ao ponto de serem anormais, de tão fora do normal que ficou.

  Becky acordou e tinha se transformado em alguém linda. Não tão linda quanto uma folha madura e avermelhada de Chubas, mas linda o suficiente para ser apelidada gentilmente de gostosa.

  Isso nunca tinha acontecido na história de Nuvenzinha, as pessoas começaram a investigar a fonte de sua beleza. Algumas foram em Lan Houses procurar no Google por Photoshop. Outras invadiram violentamente salões de beleza (que lá eram chamados apenas de “salão”) para perguntar como isso era possível. E outras  ficavam apenas encarando de um jeito assustador Becky, tentando guardar aquela imagem na cabeça para usar posteriormente no que eles chamavam de “material para punheta”.

  Mas o encanto positivo logo se transformou em tragédia. As outras mulheres começaram a ter um sentimento inédito de inveja, elas pensavam: “porque ela pode ser tão linda e nós não? Ela nasceu aqui igual a todas nós. Será que Deus não existe? Será que ela é uma bruxa? Será que Chubas ficaria com um gosto bom se fizéssemos um chá e colocássemos algumas pitadas de pimenta e quem sabe um pouco de açúcar só para realçar o sabor e deixar um pouco mais tragável o gosto amargo e quase insuportável dessa bebida que legalmente é algo ilegal?

  Os homens, por outro lado, sentiam raiva de Becky simplesmente por ela não dar para todos eles.

  Nuvenzinha não estava mais feliz, e alguém teria que pagar por isso.

  Uma multidão se viu avançando para o barraco onde Becky se escondia, munidos de tochas, espadas, facas e algumas bonecas infláveis. Começaram a gritar em frente o barraco quando Becky apareceu na porta da frente e começou a falar. Nesse momento ouve um silêncio assustador, exceto pela voz de Becky, que provavelmente não deve ser considerado um silêncio:

- Pessoal, eu não entendo o porque de tanto ódio contra mim, eu sou apenas uma garotinha igual a todos vocês;

  Os homens se manifestaram, mas logo se calaram para que ela continuasse:

- Eu nasci nessa cidade, e desde pequena fui uma de vocês. Em toda a minha vida eu quis ser algo mais, eu quis ser notada, então eu pedi para Chubaru – o Deus protetor das Chubas – para que me fizesse diferente, apenas para eu conseguir o amor de minha paixão platônica. Jão, eu te amo desde o momento que te vi, você me fez querer ser como eu sou, você me fez querer viver. Eu já sofri muito em toda a minha vida por não ter você, e se eu tiver que morrer, que seja em seus braços.

  O silêncio reinou enquanto todos olhavam para Jão.

  Até que finalmente, após 5 minutos de constrangimento geral, ele se manifestou:

- Becky… eu sou gay.

  “Puta que pariu” foram as últimas palavras que se ouviu da doce e maravilhosa boca de Becky, antes da primeira pedra atingir seu olho direito, fazendo sangue descer por sua face. Logo em seguida uma mulher com uma espada decepou a perna esquerda de Becky em um ataque aprendido em Kill Bill.

  Deitada no chão, enquanto um velho estuprava a sua orelha e uma criança arrancava com os dentes seu mamilo esquerdo, Becky olhou para o céu… Ele estava lindo e azulado, e nem enquanto o farmacêutico local batia incansavelmente com um martelo no umbigo da jovem moça, ou um adolescente comia a boneca inflável, imune a todo esse massacre horrendo, ele parava de brilhar.

  O último pensamento de Becky foi: “Pelo menos eu ainda sou gostosa”, e então tudo escureceu.

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