Os ventos do norte não movem moinhos

Postado por Luan Henrique | | Posted On quarta-feira, 4 de setembro de 2013 at 20:49

moinho-vento

  O investigador especial de ventos suspeitos Gabriel recebeu uma ligação um tanto quanto inesperada naquela manhã de sexta-feira, ele estava em seu escritório fazendo um experimento de rotina que consistia em assoprar velas de aniversários para analisar as consequências que o vento saído de sua boca agiriam sobre o fogo na ponta das velas. Até agora sua conclusão era de que elas se apagavam.

  Gabriel escreveu em seu caderno de anotações o resultado e se dirigiu para atender o telefone, era um representante do governo que estava na linha, parecendo meio ofegante e com a voz trêmula.
  Cacete, lá vou eu de volta satisfazer esses putos pervertidos, pensou Gabriel.
  Mas para sua surpresa dessa vez era algo que parecia sério, ele estava realmente nervoso e começou a contar o que estava acontecendo para o melhor investigador de ventos suspeitos que nossa querida nação já havia contratado:

  “Ventos Gabriel, ventos muito fortes e fora do comum estão vindo do Oceano Atlântico e invadindo nosso litoral. Ondas de mais de 50 metros estão destruindo casas, apartamentos, pousadas, barcos, barraquinhas de… vodkas… ou água de coco, tanto faz, estradas, pessoas cara, pessoas tão morrendo. Nossos instrumentos estão loucos aqui, linhas de comunicação com o exterior estão cortadas, paraquedistas estão caindo dos céus (eu sei, eu sei, essa é a ideia, cair, mas eles estão se machucando de verdade). Telhados estão sendo arremessados, você precisa nos ajudar cara, eu fui fazer um pintoscopio na varanda e quase quebrei meu pênis. Estamos desesperados.”

  A ligação caiu nesse momento. Gabriel refletiu por um instante, confuso com o que acabara de escutar. Ventos? Ventos são normais, eles que fazem os barquinhos andarem, eles que mantém os aviões no céu, são os ventos que ligam nossos ventiladores. Gabriel são sabia porque tanto alarde sobre algo tão simples e natural, mas resolveu sair para a rua para ver por si mesmo o que estava acontecendo.

  Ao abrir a porta principal do seu escritório de luxo em frente ao morro do austríaco, seu chapéu de madeira fundida saiu voando com uma velocidade tão grande que nenhum piolho sobreviveu, agora ele estava realmente assustado.

  A cidade estava um caos. Coisas voavam, pessoas desnutridas voavam, gordos rolavam, postes estavam sendo arrancados do chão. Gabriel pisou firme e se pôs a andar, devagar, com a mão direita espalmada na frente do corpo, como que isso fosse fazer o vento tomar distância: “Putz pessoal, aquele cara ali tá com a mão aberta em sinal de pare, acho que é melhor darmos a volta, afinal somos vento e respeitamos a sinalização”. Em poucos instantes chegou na Prefeitura Municipal do Município Principal, um lugar tranquilo frequentado principalmente por fantasmas e manifestantes sem causa alguma, mas com uma salinha bastante elegante no ultimo andar, onde o prefeito aparece 3 vezes por dia para usar o banheiro, que tem um bidê. Gabriel torceu para para encontra-lo lá agora.

  Estava com sorte, graças ao seu Criador impaciente para terminar logo essa história, o prefeito se encontrava nesse exato momento em sua salinha. Ufa, pensou Gabriel, não terei que esperar muito, obrigado Ó Grande Magnífico egocêntrico com uma beleza impecável de dar inveja.

- Escute aqui Gabriel – disse o Prefeito com sua voz rouca de anos a fio fumando cigarro Classic em botecos – A coisa está feia e você é o unico que pode nos ajudar. Alguns informantes secretos em missão no continente africano nos mandaram um telegrama codificado comentando, assim meio por cima, sobre alguma atividade suspeita em toda região. Aparentemente pessoas estão se locomovendo em grande escala para a costa. Eles não conseguiram dizer o porquê pois a receita de comidas típicas que eu pedi para eles tomou conta de quase todo o telegrama e não sobrou espaço para explicações, por isso estarei te enviando para lá.

- Mas como eu chegarei até lá senhor? Aviões não podem sobrevoar o Brasil, tá ventando muito.

- Sim, você está certo. Nem aviões e nem navios estão conseguindo chegar perto do Oceano Atlântico. Carros não estão andando e muito menos helicópteros. Mas eu me reuni mais cedo com os engenheiros públicos e chegamos a uma solução impecável para se locomover até lá. Você irá montar nesse triciclo infantil e…

- Calma ai, triciclo infantil? Você quer que eu atravesse o mundo na porra de um triciclo infantil?

- Sim, é o unico jeito de evitar que os ventos lhe carreguem. Eles possuem uma aderência ao solo bem melhor do que qualquer tanque de guerra, e com seu peso não terá perigo algum. Se atente ao plano. Você sairá daqui de São Paulo, vai atravessar o Brasil pelo oeste chegando ao Paraguai (aproveita e me traga um mini system potente de lá, toma aqui cinquentão), vai passar pela Argentina chegando ao Chile. Então com os remos acoplados no triciclo você atravessará o Oceano Pacífico chegando até o fim do mapa. Não se preocupe que descobrimos recentemente que o mundo não acaba por lá, ao invés disso, ele continua até a parte leste do mapa mundi, onde tem uma caralhada de ilhas, cangurus e sushi. Mas você continua indo reto até que irá encontrar a ilha de Madagascar, linda mas perigosa e com muita cantaria. Vá para Moçambique, passe por uns países inúteis lá até chegar na Angola que aparentemente é onde eles estão se reunindo. Descubra o que está acontecendo e acabe com isso de uma vez.

  Gabriel agradeceu as instruções e seguiu viagem, munido apenas de seu triciclo vermelho, a roupa do corpo, um passaporte e um pacote de Trakinas. A viagem demorou bem menos do que ele imaginava e em menos de duas horas ele já estava atravessando a fronteira da Angola e ainda lhe restavam mais duas bolachas no pacote (sim, você leu certo, B-O-L-A-C-H-A-S).

  Chegando ao litoral angolense as coisas ficaram confusas. Milhares de pessoas estavam amontoadas próximo ao mar, cada uma munida de um patinho de borracha nas mãos – sim, aqueles que normalmente pessoas sortudas possuem em banheiras – e eles apertavam incansavelmente fazendo o ar sair da região anal dos brinquedos.

  Puta que pariu – sussurrou Gabriel, incrédulo – milhares de pessoas liberando o ar dos patinhos ao mesmo tempo causou toda aquela confusão na América do Sul, por que eles estariam fazendo isso? O que foi que fizemos para que tamanho ódio fosse implantado nos corações de toda essa gente? Meu Deus, se isso continuar não poderemos fazer nada para contra-atacar.

  Mas Gabriel teria de fazer algo, sua missão era salvar toda a população brasileira, povo que ele tanto ama, e para isso essa loucura teria de acabar. O barulho ali estava ensurdecedor, muitos patos fazendo barulho de peido ao mesmo tempo. Gabriel correu, tentou conversar com algumas pessoas com seu péssimo inglês mas tudo o que conseguiu foi uma resposta de um angolano que simplesmente disse que estavam entediados.

  Tédio? Seria essa a causa para toda essa carnificina descontrolada? Ele não podia acreditar nisso, mas tinha que fazer alguma coisa, só ele poderia acabar com tudo aquilo e querem saber o que ele fez? Realmente querem saber?

  Nada, pois infelizmente é cientificamente impossível acabar com o ataque de milhares de patinhos de borracha. Eles simplesmente são indestrutíveis.

  Sete anos depois disso, toda a América do Sul foi parar no fundo do mar, e com isso, o Haiti passou a ser a maior potência no futebol mundial…

 

 

 
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