O poder do amor

Postado por Luan Henrique | | Posted On quarta-feira, 26 de junho de 2013 at 23:05

Materia-Meu-Primeiro-Amor

  Mais do que apenas um rostinho bonito… ela tinha poder. Um tipo de poder que não deveria jamais ser obtido por nenhum ser humano. Um tipo de poder tão poderoso que era capaz de se apoderar totalmente de um pobre corpo e possuir uma mente até que apodrecesse. Poder, o poder de matar sem usar as mão. E Janaína Agular possuía esse poder.

  Tudo começou no final de sua adolescência, faltavam apenas três meses para que sua maioridade fosse alcançada e ela pudesse dirigir o carro de churros do pai para ganhar algum dinheiro e poder come-los pela primeira vez na vida. E foi naquela noite fria de Julho que sua descoberta aconteceu.
  Seu namoradinho, um cara simpático, magro, fracote e meio besta, conseguiu a convencer de que já tinha passado da hora dos dois selarem o seu amor na forma física. Ela tinha resolvido esperar não por causa de religião, o homem perfeito ou qualquer besteira dessas, ela apenas tinha vergonha de seu corpo nu, de uma parte específica dele para dizer bem a verdade. Mas resolveu ceder para Bruno, pois ele havia demonstrado milhares de vezes o quanto a amava e não se importava com qualquer defeitinho que ela pudesse ter. Afinal, mulheres são famosas por exagerarem quando se trata delas mesmas.
  Tudo estava perfeito, ele havia trazido flores, o pai de Janaína iria passar a noite fora ou transando com prostitutas ou se vestindo como uma. Sua mãe havia morrido a 5 anos atrás, tudo estava correndo na direção certa para que aquela fosse a noite mais maravilhosa de suas vidas.
  Rolaram beijos, rolaram carícias, baba, peitinho, lambidas nas axilas e tudo o mais que possa deixar as preliminares tão excitantes. Logo Janaína ficou inteiramente nua e deitou-se em sua cama, posição de parto, gotas de suor escorrendo pela sua testa e abafando seus gemidos baixos e ininterruptos. Bruno ajoelhou-se em sua frente, com um olhar meio assustado e com a língua congelada no lado de fora de sua boca. Logo, ele resolveu falar:
- Puxa…! Isso é um baita de um clitóris né não?

  Janaína fechou a cara no mesmo instante, não acreditava que tinha ouvido isso numa hora dessas em que ela estava disposta a fazer tudo o que o amor de sua vida quisesse com ela. Cerrou seus punhos com força, e, sem dizer uma palavra, levantou seu dedo médio em direção a Bruno e logo em seguida o levou até o centro das atenção que estava no meio de suas pernas.
  Acariciou seu pequeno monstrinho pessoal por alguns segundos, até que levantou os olhos em direção do seu parceiro e viu que ele estava com os olhos fixos, o corpo congelado e apenas seu braço direito fazendo certos movimentos para cima e para baixo.
- Bruno! BRUNO!!! O que você está fazendo? Meu Deus como isso é nojento Bruno, pare agora mesmo com isso, por favor! Você está maluco? Jesus por que isso? Por que? Bruno, sério, a sua… sua… cabeça, seu rosto Bruno. Você está ficando vermelho. Por favor para com isso, estou ficando assustada Bruno, sério.
  Ela começou a chorar alto, enquanto Bruno continuava no seu ritmo frenético movimentando o brinquedinho mais antigo da humanidade masculina, e seu rosto ficava cada vez mais vermelho, seus cabelos pareciam ter crescido alguns centímetros e pareciam estar saltando para fora de seu couro capilar. Seu crânio se dilatou e em questão de segundos houve a explosão.
  Pedaços de cérebros foram jorrados para fora de sua cabeça junto com um líquido branco e viscoso que se esparramou por toda a cama e pelos pés de Janaína, que nesse momento, soltou um grito tão desesperador que fez as criancinhas de um orfanato que ficava na esquina se arrepiarem todas por de baixo de seus cobertores.
  Ao mesmo tempo em que sua cabeça deixou de existir dando lugar a uma massa sangrenta que fazia bolhar de ar que explodiam com a brisa, seu pênis também liberou uma substância esbranquiçada que se juntou a massa encefálica nos lençóis para logo em seguida cair morto, fazendo companhia ao resto de seu corpo decapitado.

  O trauma dessa experiência a deixaram bastante perturbada por um bom tempo. Foi difícil explicar para os policiais o que havia acontecido de verdade, e as perguntas e acusações a deixavam mais nervosa ainda. Mas eventualmente tudo foi esclarecido como sendo um simples caso de perversão sexual adolescente. “Ahh, esses jovens de hoje” foi a frase que fechou o boletim de ocorrência.

  Dois anos se passaram desde o acidente, e Janaína se manteve longe de todo homem que tentava se aproximar dela. O amor obviamente não é para mim, dizia ela. Certa noite, ela estava virando a esquina de sua casa quando viu várias luzes de sirenes piscando no seu gramado. Saiu correndo assustada para descobrir o que havia acontecido quando foi barrada por um policial:
- Ei, eu moro aqui, o que está acontecendo?
- A senhora é a Janaína Agular, filha de Jacinto Agular?
- Sim, eu mesma, o que está acontecendo aqui?

  Uma lágrima escorreu de seus olhos ao dizer essas palavras, talvez tivesse sido seu instinto familiar lhe dizendo que algo não estava certo, ou talvez fosse a falta de desodorante do PM.
  E quando ele começou a contar o ocorrido, uma mistura de raiva com pesar inundou seus pensamentos. Seu pai, conhecido transformista da cidade, havia sido pego por três delinquentes homofóbicos que o estupraram durante horas sem piedade ou cuspe algum, antes de o matarem a paulada e cortarem partes de seu corpo e dado para as criancinhas do orfanato comerem.
  Janaína estava perplexa com tamanha brutalidade, os homens haviam ido longe demais dessa vez, e quando viu o corpo de seu querido papai nu, todo cortado e sangrando em seu quarto com o pôster enorme do Ronaldo fenômeno olhando para ele, ela perdeu a cabeça. Decidiu naquele exato momento que iria fazer justiça com as próprias mãos e ninguém a iria impedir.

  Pegou as chaves do velho carro de churros de seu pai e começou a dirigir em direção a delegacia da cidade. Tinha uma certa noção de como seriam os assassinos, punks-skinheads do pé vermelho, sabia ela. Entrou na delegacia com sangue nos olhos e tratou logo de baixar suas calças e retirar sua calcinha na frente de todos. Alguns policiais ficaram mudos, outros gritaram vitória! Outros cantaram o hino nacional, mas quando Janaína começou a se tocar, aquela cena ocorrida dois anos atrás voltou a acontecer com todos que estavam no salão.
  Cabeças explodindo uma a uma, enquanto outros menos precoces continuavam com o exercício mortal e nojento. Janaína não ligou e foi andando pelas celas, ainda se tocando e ainda ouvindo as explosões acontecendo a sua volta.
  No final do corredor lá estavam os 3, calças arriadas e o espanto no rosto. Ela começou a ir mais rápido e mais forte, até sua própria arma começar a vermelhar com a pressão. Em pouco tempo os três estavam mortos, sem cabeça e com os peitos caídos sobre o líquido viscoso saído deles próprios.

  Janaína vestiu suas calças e correu. Correu o máximo que pôde até entrar no carro e dirigir até o aeroporto. Estava um pouco mais aliviada e com menos raiva, e agora que sua mente tinha clareado um pouco e se deu conta do que fez, só pensava em fugir.
  Ninguém jamais descobriu como todas aquelas mortes haviam acontecido, seu feitiço era, obviamente, imune contra mulheres, e por sorte não havia nenhuma na delegacia naquele momento. Ficou pensando na dor que lhe causaram e na dor que ela mesmo tinha feito a várias pessoas no trajeto inteiro do avião que partia para a Índia.

  Sete anos se passaram agora, ela tinha arrumado um bom emprego e comprado uma linda casinha nas montanhas indianas, alguns pensamentos ainda a perturbavam, mas ela estava se acostumando com a dor e disposta a ser uma outra pessoa.
  Certo dia enquanto ela cozinhava um belo arroz no seu fogãozinho a lenha e cantarolava sucessos pop indiano, alguém bateu a sua porta. O homem, se identificando como Hamuialah Trebesknov, disse que havia recebido queixas de várias pessoas sobre sua nacionalidade e a imigração estava mandando-a de volta para seu país.
- Desculpe-me senhor, mas eu não posso voltar para o Brasil, já estou aqui a sete anos e vou continuar.
- Receio que isso seja impossível – disse o indiano, chocado consigo mesmo por saber português.
- Ok então meu querido, vou só arrumar minhas malas e você pode esperar sentado no sofá.

  Ela voltou alguns minutos depois, nua, disposta a se livrar daquele inconveniente como havia se livrado de vários no passado. Começou a se tocar bem devagarzinho para Hamuialah, que logo estava nu e fazendo o mesmo. Alguns minutos se passaram e o homem não aparentava qualquer sinal de que iria explodir. Seu rosto estava calmo e sua mão subia e descia lentamente, como se estivesse acostumado a isso. Janaína começou a ficar assustada e usou mais força e mais velocidade, enquanto o indiano mantinha seu ritmo gentil e zombeteiro. Ela gritou de raiva e foi mais fundo, mais forte e usando mais dedos, mas aparentemente seu feitiço não estava fazendo efeito algum sobre o homem. Ela se cansou minutos depois e desistiu, brava e suando:
- Quem é você? Como você não explode? Merda, isso não deveria falhar.
- Eu conheço os seus truques monstro-do-clitóris-assassino. A cada geração uma mulher nasce com esse poder em algum lugar do globo. Normalmente elas não sobrevivem a puberdade, mas algumas conseguem morrer apenas de velhice. A causa da morte não é o toque cliteriano apenas, e sim a ejaculação, que se torna ácida e explosiva após receber o feitiço. Eu faço parte de um grupo de retardamento sexual, somos treinados desde criança para sermos máquinas do sexo, o que significa que posso ficar horas e mais horas me tocando ou sendo tocado que não vou despejar meu sagrado tão facilmente.
- Então acabou né? Você vai mesmo me mandar de volta para o Brasil.
- Eu ia até saber que você era “ela”, sua espécie é muito perigosa solta pelo mundo, e se você ficar por aqui eu posso te ajudar a controlar o seu ódio e posso te fazer sentir o amor pela primeira vez. Você até que é bonita, topa morar comigo e jamais usar seu poder contra outra pessoa?

  O casamento foi marcado para dois meses depois. Janaína encontrou tudo o que ela sempre quis, um amor sem complicação. Nenhuma cabeça explodiu durante vários anos, e Janaína e Hamuialah viveram felizes para sempre…

FIM

 
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